segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

CARLOS NERI


Carlos Américo Neri Serra

Nasceu em Fortaleza em 21 de novembro de 1964, em meio ao golpe militar. Seu pai, médico fisiologista e militante de esquerda, estava preso no exército do Ceará. É o oitavo de nove irmãos. Viveu no Ceará até os 04 anos de idade, quando a família teve que se exilar, indo para Mogi das Cruzes, São Paulo, em 1969. A mãe era dona de casa e poetisa.
Embora tenha saído do Ceará aos 04 anos de idade, o berço de sua infância foi Fortaleza, a cidade que moldou a sua vida, o seu jeito de ser. Aprendeu a ler e escrever aos 03 anos de idade. Entrou na escola aos cinco anos, em Mogi das Cruzes, nesse período já havia definido dois caminhos para a sua vida, ou ia ser artista ou físico nuclear. Estudou para as duas coisas. Já fazia poesia por influência de sua mãe. O avô paterno Lourival Serra, era músico, clarinetista e saxofonista de orquestra. Dos nove irmãos, foi o único que herdou a arte - música, dança, teatro, literatura. Aos seis, sete anos já cantava na escola, o sonho era tocar piano. Mas o pai nunca permitiu que o filho fosse artista, achava que a arte não dava futuro pra ninguém.
Desde a infância no Ceará vivia envolto em arte. Aos oito anos, em Mogi das Cruzes, já fazia teatro na escola. A marca de Carlos Neri é a busca pelo conhecimento, aprofundava seus estudos em arte e física. Para ele, tudo é calculo, inclusive a arte, o desenho tem uma simetria, tem ângulo, perspectiva, tudo tem cálculo matemático. Também desenha e pinta. Seu primeiro grupo de teatro foi o da Escola Estadual Presidente Vargas, onde participou das peças, o Barquinho de Papel, de Maria Clara Machado e Tistu – O menino do Dedo Verde, baseado no livro de Maurice Druon. Aos 13 anos foi para o grupo TEM - Teatro Experimental Mogiano, onde participou do espetáculo O Auto da Compadecida, que ficou um ano em cartaz.
Nas aulas de educação musical, compunha, tocava flauta e usava a música para criar coreografia. Nos tempos da discoteca, se envolve com a dança, nas discotecas de Mogi das Cruzes. Recebe convites para as Academia Regina de Balé e Academia Tânia Macário, onde começa a dançar balé clássico. Dança balé clássico até os 19 anos, quando sofre um acidente e para de dançar.
Todas as escolas onde estudou tinham espaços para a arte, tinham bons teatros. Da quinta a sétima série vai para a Escola Industrial do Senai de Mogi das Cruzes, onde aprendeu marcenaria, elétrica, hidráulica, solda, desenho técnico arquitetônico e a esculpir em madeira. A escola também tinha um teatro, com caixa cênica perfeita, iluminação, áudio e mesa de som.
Ainda no Estado de São Paulo, foi modelo dos 13 aos 20 anos. Aos 18 fundou uma companhia de dança Corpo de Baile Novo Independente, onde aliava dança e teatro, produzia operetas. Nesse grupo também escrevia as histórias, montava texto e cenário. Com o Corpo de Baile Independente trouxe um grupo de dança de rua da periferia de Mogi para o centro da cidade, para compor o Corpo de Baile, juntando as operetas de balé, clássico, jazz e afro com a dança de rua.
Aos 22 anos foi para o grupo Grumont, também em Mogi das Cruzes, onde passou dois anos com o espetáculo O Divã, onde fez atuação, adaptação e direção. Circulou com o espetáculo pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Fez diversos cursos e oficinas de teatro. Estudou com Gianfrancesco Guarnieri, Paulo Goulart e Emilio Fontana, além de participar de festivais de teatro.
Mas quando não conseguiu, por questões familiares, ir para a universidade fazer o curso de física nuclear, decidiu pela arte e foi para São Paulo, capital, trabalhar com teatro. Depois volta para o Ceará em 1986, para participar de um projeto, que comemorava o cinqüentenário da morte de Frederico Garcia Lorca. Foi criado, em Fortaleza, o grupo de teatro A Cigania Luzidia que se apresentava nas praças de Fortaleza, adaptações de Bodas de Sangue, até chegar à Praça José de Alencar, ao Teatro José de Alencar, onde foi apresentado o espetáculo no palco. Nesse grupo participou como ator, cenógrafo e coreógrafo e nesse período voltou a dançar, estudou sapateado hispânico e dança flamenca, no grupo de tradições cearenses. Participou também de um grupo de dança contemporânea, fazendo intervenções na rua.
Também em Fortaleza cantava MPB, nos bares à noite. Tinha uma banda cover de Legião Urbana e continuava atuando, fazendo publicidade, direção de comerciais para televisão, no varejo e institucionais, na agência Terraço. Através dessa agência prestou serviço em vários estados brasileiros. Também era membro do sindicato dos artesãos do Ceará, produzia em xilogravura e barro, e fazia pequenas esculturas representando o cotidiano de famílias nordestinas, especialmente o retirante.
Em 1987 participa também do projeto Rodo Teatro Mambembe, de Brasília. O teatro, em um carro Kombi, percorreu 186 cidades do Oiapoque ao Chuí.
Volta para Fortaleza, em 1989, estuda teatro na Universidade Federal do Ceará e se forma em artes cênicas. Fica no Ceará até 1992. Nesse período intercala trabalhos por todo o Brasil, tendo seu ponto de apoio, Fortaleza. Em 1990, faz no Rio de Janeiro, O Belo Indiferente, de Jean Cocteau.
Em 1993 muda-se para o Tocantins, levando consigo apenas seu portfólio e algumas gravuras. De início não se envolveu com arte, mas com política. Foi líder da juventude tucana no estado. Entre 1994 e 1995 envolve-se com produção cultural, quando vai trabalhar na prefeitura de Palmas, na gestão de Eduardo Siqueira Campos. Trabalhou com palhaçaria, teatro de rua, participou do projeto viver, junto com o Palhaço Tintin, um dos pioneiros de Palmas e Erdilês Paiva, ator e carnavalesco, fazia show, peças, gague de circo, palhaçaria e esquete circense. Fez também um vernissage, em 1994 em Palmas, onde juntou música, pintura e teatro, usando a técnica do pontilhismo.
Em 1996, por questões políticas, deixa o Tocantins, retorna para o Ceará e depois para São Paulo, de onde vai para diversos estados como Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná. Em 2000, volta para Mogi das Cruzes, onde trabalha com campanhas políticas e na prefeitura de Mogi das Cruzes, desenvolvendo trabalho, como prestador de serviço, nas secretarias de cultura, turismo e agricultura. Trabalhou nessas três áreas ao mesmo tempo.
Na secretaria da cultura foi responsável pela realização de festivais de arte. De 2005 a 2007 montou onze festivais de nível nacional realizados anualmente, abarcando todas as linguagens artísticas. Paralelo ao trabalho com os festivais desenvolveu dezenove monólogos para experimentar linguagens corporal, da fala, da técnica do gramelô. Nesse período construiu personagens que ainda hoje o acompanham – o clown, o palhaço. Estudou profundamente o palhaço, o clown, a diferença entre estes, o tradicional e o clown moderno, o palhaço moderno mais sofisticado.
Neri era exímio conhecedor da região da serra do mar, conhecia todo o potencial turístico que a região podia oferecer, nesse período fez o mapeamento turístico do município. Adora mato, é trilheiro, guia mateiro, quando não estava no palco estava no meio do mato, fazendo trilha, ajudando os ribeirinhos, os camponeses.
Na área da agricultura participou do Programa Nacional de Meio Ambiente PNMA II para a recomposição de mata ciliar da serra do mar e alto Tietê cabeceiras.
Em 2008, retornou novamente para o Tocantins, com o intuito de fazer circo. Veio focado nessa idéia. Para ele o circo aglutina todos os segmentos da arte, dentro da lona se excuta todas as artes. Tem música, dança, interpretação, artes plásticas e artes visuais. Para ele lugar melhor não há para desenvolver todas as suas habilidades e aptidões dentro da arte, essa viagem lúdica da criança. O que mais pega é o palhaço, que nada mais é do que uma criança brincando no seu universo. O circo, segundo ele, aglutina todas as coisas que já produziu, que teve a oportunidade de aprender, no decorrer dos seus quarenta anos de estrada.
Em julho de 2008, funda a Companhia Aleatorium Circus e passa a fazer trabalhos para o estado e a iniciativa privada. Atualmente tem uma lona de circo em parceria com uma família tradicional de circo, que vive no Tocantins, em Porto Nacional. Luta para que a legislação relativa ao trabalho dos artistas circenses seja cumprida, que esses artistas sejam reconhecidos como profissionais da arte, que tenham sua aposentadoria pelo INSS, o seu direito ao voto garantido, porque embora itinerante, o artista circense tem a sua casa, que é o circo, a sua residência fixa, o circo é que se desloca, realizando uma de suas magias que é levar entretenimento e arte para quem não tem condição de ir a uma grande casa de espetáculo.
Neri se auto intitula andarilho, para ele, teatro de rua tem tudo a vê com circo porque é uma coisa alegre, cigana também, coisa de andarilho. Gosta de teatro de rua, porque lhe permite estar perto do público, interagir com o povo, numa empatia gratuita onde as pessoas estão ali de forma espontânea. A arte, para ele, lhe permite despachar os problemas, porque a arte lhe ambienta em um espaço que ele conhece. Preocupa-se com o aqui e o agora, o aqui e agora desse ambiente, o amanhã não lhe interessa. Para ele o mais importante na vida é o conhecimento e é isso que procura passar para seus alunos nos cursos e oficinas de arte que ministra, para ele, sem conhecimento o ser não evolui, não se liberta. Neri sempre buscou o conhecimento de forma global, entender das diversas áreas. No Tocantins começou também a fazer o curso de Tecnologia da Informação na Universidade do Tocantins, abandou o curso em função de suas inúmeras viagens. Buscava na tecnologia da informação conhecimento para ajudar na sua arte circense, na construção de máquinas que quer construir para facilitar a sua vida como artista. A busca do conhecimento é o que lhe define.  
Carlos Neri é também membro titular do Conselho Municipal de Políticas Culturais de Palmas, na câmara setorial do Circo.



terça-feira, 8 de dezembro de 2015

OFICINA - PREPARAÇÃO DO ATOR PARA A COMÉDIA

Ministrada pelo ator, diretor, produtor de teatro Nival Correia, oficina: “preparação do ator para a comédia” foi mais das atividades do projeto “Arte nas Ruas de Arraias”. 















domingo, 6 de dezembro de 2015

ESPETÁCULO - PEDRA CANGA

Espetáculo realizado pelo ator, diretor e produtor de teatro Nival Correia. Á apresentação aconteceu no dia 28 de novembro na praça da igreja de Nossa Senhora dos Remédios, Arraias - TO





















domingo, 29 de novembro de 2015

MEMÓRIAS DE WERTEMBERG





Wertemberg Nunes - diretor, ator de teatro, cinema, TV, compositor e bonequeiro, é também bacharel em turismo com habilitação em gestão de eventos. Nasceu no ano de 1960, em Gurupi, mas passou a infância em Ponte Alta do Tocantins, região do Jalapão. A base do seu processo criativo começa na infância, ainda em Ponte Alta, encenando seu universo interiorano, representados nas brincadeiras com osso de gado e jatobá, nos festejos e na festa do boi. Mudou-se para Porto Nacional em 1970, onde teve contato com diferentes manifestações artísticas, conheceu o cinema, a banda de música, o circo, os festivais de música e o cinema itinerante dos ciganos. A sua maior influência artística, no entanto, foi o drama de circo, embora, ainda, não se imaginasse como ator.
Conhece o teatro em Goiânia em 1976, quando assiste à primeira peça de teatro, Fora os Preconceitos, mas não gosta, acha muito intelectual, prefere o drama de circo. Trabalhava no comércio em Goiânia, quando foi convidado a participar do Grupo Teatral Trabalho, do Sesc, na peça O Auto da Compadecida, baseada na obra de Ariano Suassuna,  onde fez o papel do padre e construiu o personagem baseado nas suas referências da infância e juventude, em Porto Nacional. Com esse grupo passa a ter contato com a linguagem teatral e dá início a sua formação como ator. Em 1980, com um grupo de amigos saídos do Grupo Teatral Trabalho do Sesc, forma  o grupo Opinião, onde participou como ator e diretor. O grupo permaneceu até 1996, trabalhando com o universo do teatro infantil. O primeiro espetáculo do grupo Opinião, O Casaco Encantando, de Lúcia Benedetti, foi levado para o Festival Nacional de Teatro Infantil de Campinas, São Paulo, em 1979, onde ganhou os prêmios de melhor espetáculo e melhor direção, de Nilton Rodrigues. A maioria dos espetáculos montados pelo grupo era para o público infantil - As aventuras de Dom Chicote, Mula Manca e seu fiel escudeiro Zé Chupança, de Oscar Von Pfuhl; Entrou por uma porta saiu pela chaminé, de Valmir Pasquim; Vôo esperança, de Tião Pinheiro, Novelos do acaso, de Pio Vargas; e ainda, Na beira do céu, Caminhos de demê, A farsa do advogado Pathelin e Vem brincar, de sua própria autoria. O grupo também criou espetáculos para o público adulto, como a peça, Poética bancária, de Leo Pereira.
O grupo Opinião se caracterizou pela forma como montava seus espetáculos, que eram tradicionais para a casa de espetáculos, mas com uma cenografia e estilo alternativo, parecido com o teatro pobre de Grotowski. O que se fazia era a desmistificação do teatro infantil, a preocupação era com a formação da criança como cidadão.
O diretor Nilton Rodrigues, foi um divisor de águas na sua formação política, influenciou-o a pensar para que serve o teatro, porque e para quê montar um espetáculo. O teatro não só para o entretenimento, mas com um objetivo político. Essa forma de pensar também dividiu o grupo Opinião, uma parte queria voltar a participar dos festivais e a outra queria entender o sentido do que se vivia, queria estudar mais. A formação do ator é fruto desses estudos e da participação em oficinas e festivais, em todo o país.
Começa a fazer direção teatral no grupo Opinião, em 1982, mas só se assume como diretor, após estudar dramaturgia e direção, com o dramaturgo Carlos Alberto Soffredini. Em 1986, assina a direção do espetáculo Poética Bancária.
O trabalho com os bonecos também começou no grupo Opinião com Delgado Filho, integrante do grupo e apaixonado pela arte dos bonecos. Numa oficina com Delgado Filho, Wertemberg fez sua primeira cabeça de boneco, batizado de Totoió, que passou a ser seu primeiro boneco de trabalho. Junto com Delgado Filho, desenvolveu uma técnica própria de manipulação dos bonecos gigantes, diferente dos bonecos de Olinda, que, segundo ele, tira o movimento do ator, a técnica criada por eles, deixa o corpo livre transferindo a postura do ator para o boneco gigante.
Pautado na cultura popular e na ideia da máscara da commedia dell’arte, do personagem permanente e do movimento realista, cria o seu primeiro boneco gigante, o Pregolino, um personagem ligado à alegoria da cultura popular de Goiás e onde o trabalhador se reconhece, era um boneco para animar as brincadeiras na rua e mobilizar as pessoas.
A partir de 1990 passa a viver somente do trabalho com o teatro. Aprimora o uso dos bonecos gigantes para o teatro, desenvolvendo espetáculos para empresas. O primeiro deles, foi sobre segurança no trabalho, feito em 1989, para os trabalhadores da Saneago, empresa de saneamento de Goiás e, com Altino Barros, outro integrante do grupo, cria os bonecos: Grego e Oripa para trabalhar em campanhas políticas, no estado de Goiás. Com o fim da primeira formação do grupo Opinião, retoma os espetáculos somente com o boneco Pregolino.
Concomitante ao trabalho com as empresas, realizou seu sonho de ter um local para temporadas de teatro em Goiânia, o grupo Opinião abre o seu próprio teatro, chamado de Pingo D’água, para isso foi adaptado o espaço do restaurante do sindicato dos urbanitários de Goiânia, na rua 01. Mas o projeto não vingou, os grupos em Goiânia, não tinham condições de manter um elenco numa temporada. Nesse espaço, o grupo Opinião, encenou Vem brincar, que hoje se chama Coração de Menino e Novelos do Acaso. Mas as demandas das empresas para as quais vendia seus espetáculos e a pequena procura pelo teatro convencional fizeram com que o projeto da casa de espetáculo fosse abandonado. Wertemberg percebeu também que através do trabalho nas empresas conseguia realizar seu sonho de fazer um teatro para todos, onde todos pudessem entender a sua mensagem. Nos espetáculos para as empresas, além da mensagem educativa levava a mesma estética do trabalho com as máscaras, e era um sucesso de público. Passa então a usar o espaço do teatro para ensaiar e experimentar, mas as apresentações eram na rua.
O teatro também foi à base para a sua formação e engajamento com a política cultural. Foi eleito presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador por duas gestões, entre 1991 e 1995.
O teatro em Goiânia, no entanto, não correspondia mais às suas expectativas. Autodidata, passou a estudar história, sentia falta dessa formação pro seu processo criativo. Nesses estudos chega a estilos de linguagem como a capoeira, e se aprofunda no conhecimento da cultura popular brasileira. Esses estudos e questionamentos apontaram para a necessidade de conhecer o universo dessa cultura e firmar o seu processo criativo nessas bases.
Queria fazer um teatro para todos, e o mais dramático possível, não a dramaturgia narrativa clássica, nem o teatro da poesia, mas a dramática pura. Através do curso de dramaturgia com Soffredini, compreende, segundo ele, que o gênero dramático não existe, ele só acontece quando se conta uma história e se tem um personagem, este é o lírico e a história é a narração, que é o épico. Estes – épico e lírico – quando se juntam é que faz surgir o dramático. Entende o teatro como o universo da especialidade humana.
Os estudos das linguagens a partir das inspirações de Grotowski e também de Eugenio Barba, com o teatro antropológico, a busca do teatro que dialogasse com toda a sociedade e que fosse de fácil compreensão e levasse a conscientização, tinha que ter, para ele, nesse processo de formação algo que fosse da alma brasileira, o que encontrou na capoeira. A partir das pesquisas com a cultura popular passa a usar a capoeira para o processo de formação do ator.
Fecha o teatro Pingo D’água em 1996 e muda-se de Goiânia - junto com sua esposa, a atriz Rosimeire Faleiro, também do grupo Opinião, e seus filhos Wertem, Taiom e Ramar - para percorrer o Brasil e aprofundar-se nas raízes da cultura popular brasileira e na sua produção teatral. Com a sua família, forma um novo grupo de teatro que recebeu também o nome de Pingo D’água. Foi para Brasília e depois para o Espírito Santo, o objetivo era morar em um determinado lugar, vivenciar o seu universo cultural, a fim de compreendê-lo. Para compreender a região sudeste, foi para o Espírito Santo, levando na bagagem, os bonecos Pregolino e Totoió. Nesse estado ao ser convidado para fazer um espetáculo de rua, teve a idéia de criar uma família de bonecos gigantes, o pai, a mulher e uma criança. O boneco Pregolino passa a ser o pai, cria a boneca, mãe Bá, e o boneco, Môfio. Para esses bonecos, aprimora a técnica de manipulação, separando o boneco em duas partes, a de cima e a de baixo, humanizando mais os movimentos. Com esse processo, aprimora também o boneco Totoió, que passa a ser o vovô Totoió. Ainda no Espírito Santo, o boneco Pregolino, que já era vestido pelo seu filho mais velho, Wertem, em um evento para criança ganha um nome novo, passa a ser chamado de Amarelo, nome que popularizou o boneco. Com o grupo Pingo D’água montou os espetáculos Morro da pescaria, Pari guara, Ritual do tempo, Solte os bichos e O dominador, todos de sua autoria.
No Espírito Santo ao conhecer o congo, criou um ritmo percussivo batizado de capoeboicongo – uma fusão de elementos da capoeira, do boi e do congo, tocado com tambores de troncos de madeira e berimbau. Com o fim do casamento com Rosemeire Faleiro, retorna em 2000 para o Tocantins e junto com os filhos cria o grupo os Tawera, uma junção dos nomes de seus três filhos Wertem, Taion e Ramar, que, segundo ele, significa uma tal era, tal de taoísmo e era de uma época, a razão de ser de uma época. Os filhos são a razão de ser de uma época da sua vida. Nesse mesmo ano, como resultado da imersão na cultura popular brasileira e sua relação com o teatro, cria no distrito de Taquaruçu em Palmas, capital do Estado, a Aldeia Tabokagrande - um lugar de mitos e lendas dedicado às representações simbólicas da natureza humana e dos elementos naturais da região, da qual fez surgir, junto com seus filhos, um bloco carnavalesco e um grupo musical, ambos também denominados de Tabokagrande. Atualmente ele e seus filhos se dedicam, ainda, a produção cinematográfica. Com os Tawera criou os espetáculos Coração de menino, Solte os bichos, Rei do milhão, Kauso tambor, O que é o amor e está montando o espetáculo Boizinho sonhador. Atualmente na aldeia funciona também um Ponto de Cultura.
Para o bloco Tabokagrande, que desfila ao som do ritmo capoeboicongo, criou o boneco Tabocão e a boiúna, uma serpente que representa a água, a mulher. Em 2006, transforma o bloco, no Galo de Palmas, um bloco de carnaval com cinco bonecos gigantes, que representam, para ele, as regiões que compõem a cidade: Taquaruçu, os bairros Aurenys, o centro – marrandukã; o norte – galo união, e Taquaralto – o comércio. O bloco, segundo ele, chama-se Galo, porque cada região, em Palmas, quer cantar de galo, ser mais importante – Taquaruçu, porque foi a origem; o centro, porque é moderno; o Taquaralto, porque é o comércio; os Aurenys, porque construiu Palmas; o norte, porque congrega as várias culturas que vieram se unir em Palmas.
Em Taquaruçu começa também a produzir os tambores em madeira, feito com tronco ocado. Da queima dos troncos para produzir os tambores, surgiu a ideia de fazer o espetáculo da queima dos tambores.
O carnaval da aldeia Tabokagrande começa com a caçada da boiúna pelo distrito de Taquaruçu, depois o encontro da boiúna com os bonecos gigantes e o ritual da queima dos tambores na aldeia. Nos últimos dois anos, o evento passou a ser realizado uma semana antes do carnaval, para abrir a festa do rei Momo, do município de Palmas.
Wertemberg é atuante no movimento cultural. Foi membro do Conselho Setorial de Música do Ministério da Cultura, representando a região norte, entre 2011 e 2014 e membro do GTCV - Grupo de Trabalho Cultura Viva, representando a CNPDC Comissão Nacional dos Pontos de Cultura pela região norte, em 2014. O GTCV foi criado para regulamentar a lei cultura viva. Foi também um dos idealizadores do Movimento de Políticas Públicas para a cultura no Tocantins - MOVE-TO.


sexta-feira, 27 de novembro de 2015

NIVAL ARAÚJO CORREIA

NIVAL ARAÚJO CORREIA



NIVAL ARAÚJO CORREIA – Ator, diretor, produtor de teatro, formado em geografia, nasceu em Passagem Franca no Maranhão em 1973, filho do Sr. José Correia de Araujo e de Dona Maria Vilani Evaristo de Araújo. É o segundo de três irmãos. No Maranhão participou da sua primeira peça de teatro em um evento da escola, onde fez o papel do prefeito da cidade, ficando conhecido como o sr. prefeito por alguns anos. Mais nunca teve a intenção de ser ator. Chega ao Tocantins em 1992, aos 19 anos, sonhava em ser administrador, trabalhou por vários anos, em Palmas, como gerente de posto de saúde. Embora o teatro não fosse uma vocação, criou, na unidade de saúde onde trabalhava, o espetáculo Fermento na massa, que tratava da saúde em comunidade. Começa também a trabalhar com grupos de jovens da igreja, onde encenavam espetáculos em datas comemorativas como a semana santa e dia de São Francisco. Depois passou a fazer um trabalho mais popular com as quadrilhas juninas, escrevendo peças e atuando.
Teve sua primeira experiência com quadrilha junina, em 1996, quando foi convidado pela quadrilha Caipiras do Borocoxó para inserir o teatro na quadrilha, o que deu muito certo. Outras quadrilhas passaram a trabalhar com o mesmo formato. Hoje, presta assessoria por meio de oficinas de expressão corporal, facial, animação, investigação da temática para os brincantes, além de oficinas para jurados de quadrilhas juninas.
Participou da Companhia Raízes de Teatro Amador entre os anos de 1994 a 1996, juntamente com Juliano Gomes e Reginaldo Reis, sob a direção de Carlos Bahia, onde trabalhou com interpretação e narração.
Em 1999, recebeu o convite do ator Cícero Belém para participar do grupo de Teatro Chama Viva, fato que o fez abandonar o trabalho na saúde para se dedicar somente ao teatro, começando então sua carreira profissional. Nesse período trabalhou com diretores como Rafael Ponzi, Antônio Guedes e Fátima Saadi. No grupo Chama Viva participou de vários espetáculos, entre eles: O jogo do amor que ficou em cartaz doze anos e O anel de magalão, circulando em diversas cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Recife e Goiânia.
No cinema atuou em Xingu, onde não teve uma grande participação em cena, mas ficou no set de gravação durante dois meses, devido a sua experiência em selva e em orientação geográfica, sendo bastante utilizado pelo diretor para esses serviços. Participou também de uma produção espanhola, o filme Descalço sobre a terra vermelha, acerca da vida de Dom Pedro Casaldáliga, e das tocantinenses Um Lagarto a caminho do Bonfim, de Hélio Brito; Tempos Difíceis e Som de lá, de Caio Brettas.
Em 2012 deixa o grupo Chama Viva e monta sua própria produtora, a Spatium Arte e Cultura, onde é sócio proprietário e passa a trabalhar também como produtor e articulador cultural. Dentre as suas produções locais estão os espetáculos: A Loba de Rayban com  Christiane Torloni, Leonardo Franco, Maria Maya e Renato Dobal II, em 2010; De Perto ela não é Normal com Suzana Pires, em 2010; As Pontes de Madson com Flávio Galvão e Mayara Magri em 2012.
Tem em seu repertório como ator, os espetáculos: A caixa; Dois idiotas sentados, cada qual no seu barril; Pedra canga e Trupizupe – o raio da silibrina. É presidente de honra do ISTO (Instituto Social do Tocantins) que realiza diversas ações, entre elas, a Semana Isto de Teatro, o Projeto Isto 153 (em referência à rodovia Belém – Brasília) com circulação de espetáculos em cidades às margens desta BR, no trecho de Araguaína a Goiânia; o Projeto Temporada Popular de Teatro Tocantinense, com oficinas e apresentações de espetáculos tocantinenses e a Mostra do Cine Buriti, em Buritirana, distrito de Palmas. Desenvolve também projetos de oficinas, transmitindo o seu conhecimento e a sua experiência com o fazer teatral.





sexta-feira, 20 de novembro de 2015

PINGO D'ÁGUA E CAPOEBOIGONCO

Neste vídeo, o ativista cultural, bonequeiro e ator Wertemberg Nunes, fala sobre a criação dos ritmos: "Pingo d' água e Capoeboicongo", ritmos que fazem parte dos espetáculos do seu grupo.



   

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Oficina - Teatro de Rua e Animação de Boneco

Oficina ministrada pelo ativista cultural, bonequeiro e ator Wertemberg Nunes. Realizada no Museu Histórico e Cultural de Arraias no dia 15 de novembro.