Wertemberg Nunes - diretor, ator de teatro, cinema, TV, compositor e bonequeiro, é também bacharel
em turismo com habilitação em gestão de eventos. Nasceu no ano de 1960, em
Gurupi, mas passou a infância em Ponte Alta do Tocantins, região do Jalapão. A
base do seu processo criativo começa na infância, ainda em Ponte Alta, encenando
seu universo interiorano, representados nas brincadeiras com osso de gado e
jatobá, nos festejos e na festa do boi. Mudou-se para Porto Nacional em 1970, onde
teve contato com diferentes manifestações artísticas, conheceu o cinema, a
banda de música, o circo, os festivais de música e o cinema itinerante dos
ciganos. A sua maior influência artística, no entanto, foi o drama de circo, embora, ainda, não se imaginasse como
ator.
Conhece o teatro
em Goiânia em 1976, quando assiste à primeira peça de teatro, Fora os Preconceitos, mas não gosta,
acha muito intelectual, prefere o drama de circo. Trabalhava no comércio em
Goiânia, quando foi convidado a participar do Grupo Teatral Trabalho, do Sesc,
na peça O Auto da Compadecida,
baseada na obra de Ariano Suassuna, onde
fez o papel do padre e construiu o personagem baseado nas suas referências da
infância e juventude, em Porto Nacional. Com esse grupo passa a ter contato com
a linguagem teatral e dá início a sua formação como ator. Em 1980, com um grupo
de amigos saídos do Grupo Teatral Trabalho do Sesc, forma o grupo Opinião, onde participou como ator e
diretor. O grupo permaneceu até 1996, trabalhando com o universo do teatro
infantil. O primeiro espetáculo do grupo Opinião, O Casaco Encantando, de Lúcia Benedetti, foi levado para o Festival
Nacional de Teatro Infantil de Campinas, São Paulo, em 1979, onde ganhou os
prêmios de melhor espetáculo e melhor direção, de Nilton Rodrigues. A maioria
dos espetáculos montados pelo grupo era para o público infantil - As aventuras de Dom Chicote, Mula Manca e
seu fiel escudeiro Zé Chupança, de Oscar Von Pfuhl; Entrou por uma porta saiu
pela chaminé, de Valmir Pasquim; Vôo esperança, de Tião Pinheiro, Novelos do
acaso, de Pio Vargas; e ainda, Na beira do céu, Caminhos de demê, A farsa do advogado Pathelin e Vem brincar, de sua própria autoria. O
grupo também criou espetáculos para o público adulto, como a peça, Poética bancária, de Leo Pereira.
O grupo Opinião
se caracterizou pela forma como montava seus espetáculos, que eram tradicionais
para a casa de espetáculos, mas com uma cenografia e estilo alternativo,
parecido com o teatro pobre de Grotowski. O que se fazia era a desmistificação
do teatro infantil, a preocupação era com a formação da criança como cidadão.
O diretor Nilton
Rodrigues, foi um divisor de águas na sua formação política, influenciou-o a
pensar para que serve o teatro, porque e para quê montar um espetáculo. O teatro
não só para o entretenimento, mas com um objetivo político. Essa forma de
pensar também dividiu o grupo Opinião, uma parte queria voltar a participar dos
festivais e a outra queria entender o sentido do que se vivia, queria estudar
mais. A formação do ator é fruto desses estudos e da participação em oficinas e
festivais, em todo o país.
Começa a fazer
direção teatral no grupo Opinião, em 1982, mas só se assume como diretor, após
estudar dramaturgia e direção, com o dramaturgo Carlos Alberto Soffredini. Em
1986, assina a direção do espetáculo Poética
Bancária.
O trabalho com
os bonecos também começou no grupo Opinião com Delgado Filho, integrante do
grupo e apaixonado pela arte dos bonecos. Numa oficina com Delgado Filho, Wertemberg
fez sua primeira cabeça de boneco, batizado de Totoió, que passou a ser seu
primeiro boneco de trabalho. Junto com Delgado Filho, desenvolveu uma técnica própria
de manipulação dos bonecos gigantes, diferente dos bonecos de Olinda, que, segundo
ele, tira o movimento do ator, a técnica criada por eles, deixa o corpo livre
transferindo a postura do ator para o boneco gigante.
Pautado na cultura
popular e na ideia da máscara da commedia dell’arte, do personagem permanente e
do movimento realista, cria o seu primeiro boneco gigante, o Pregolino, um
personagem ligado à alegoria da cultura popular de Goiás e onde o trabalhador
se reconhece, era um boneco para animar as brincadeiras na rua e mobilizar as
pessoas.
A partir de 1990
passa a viver somente do trabalho com o teatro. Aprimora o uso dos bonecos
gigantes para o teatro, desenvolvendo espetáculos para empresas. O primeiro deles,
foi sobre segurança no trabalho, feito em 1989, para os trabalhadores da
Saneago, empresa de saneamento de Goiás e, com Altino Barros, outro integrante do
grupo, cria os bonecos: Grego e Oripa para trabalhar em campanhas políticas, no
estado de Goiás. Com o fim da primeira formação do grupo Opinião, retoma os
espetáculos somente com o boneco Pregolino.
Concomitante ao
trabalho com as empresas, realizou seu sonho de ter um local para temporadas de
teatro em Goiânia, o grupo Opinião abre o seu próprio teatro, chamado de Pingo
D’água, para isso foi adaptado o espaço do restaurante do sindicato dos
urbanitários de Goiânia, na rua 01. Mas o projeto não vingou, os grupos em
Goiânia, não tinham condições de manter um elenco numa temporada. Nesse espaço,
o grupo Opinião, encenou Vem brincar,
que hoje se chama Coração de Menino e
Novelos do Acaso. Mas as demandas das
empresas para as quais vendia seus espetáculos e a pequena procura pelo teatro convencional
fizeram com que o projeto da casa de espetáculo fosse abandonado. Wertemberg percebeu
também que através do trabalho nas empresas conseguia realizar seu sonho de
fazer um teatro para todos, onde todos pudessem entender a sua mensagem. Nos
espetáculos para as empresas, além da mensagem educativa levava a mesma
estética do trabalho com as máscaras, e era um sucesso de público. Passa então
a usar o espaço do teatro para ensaiar e experimentar, mas as apresentações eram
na rua.
O teatro também
foi à base para a sua formação e engajamento com a política cultural. Foi
eleito presidente da Confederação Nacional de Teatro Amador por duas gestões,
entre 1991 e 1995.
O teatro em
Goiânia, no entanto, não correspondia mais às suas expectativas. Autodidata, passou
a estudar história, sentia falta dessa formação pro seu processo criativo. Nesses
estudos chega a estilos de linguagem como a capoeira, e se aprofunda no
conhecimento da cultura popular brasileira. Esses estudos e questionamentos
apontaram para a necessidade de conhecer o universo dessa cultura e firmar o
seu processo criativo nessas bases.
Queria fazer um
teatro para todos, e o mais dramático possível, não a dramaturgia narrativa
clássica, nem o teatro da poesia, mas a dramática pura. Através do curso de
dramaturgia com Soffredini, compreende, segundo ele, que o gênero dramático não
existe, ele só acontece quando se conta uma história e se tem um personagem,
este é o lírico e a história é a narração, que é o épico. Estes – épico e
lírico – quando se juntam é que faz surgir o dramático. Entende o teatro como o
universo da especialidade humana.
Os estudos das
linguagens a partir das inspirações de Grotowski e também de Eugenio Barba, com
o teatro antropológico, a busca do teatro que dialogasse com toda a sociedade e
que fosse de fácil compreensão e levasse a conscientização, tinha que ter, para
ele, nesse processo de formação algo que fosse da alma brasileira, o que
encontrou na capoeira. A partir das pesquisas com a cultura popular passa a
usar a capoeira para o processo de formação do ator.
Fecha o teatro
Pingo D’água em 1996 e muda-se de Goiânia - junto com sua esposa, a atriz
Rosimeire Faleiro, também do grupo Opinião, e seus filhos Wertem, Taiom e Ramar
- para percorrer o Brasil e aprofundar-se nas raízes da cultura popular
brasileira e na sua produção teatral. Com a sua família, forma um novo grupo de
teatro que recebeu também o nome de Pingo D’água. Foi para Brasília e depois
para o Espírito Santo, o objetivo era morar em um determinado lugar, vivenciar
o seu universo cultural, a fim de compreendê-lo. Para compreender a região
sudeste, foi para o Espírito Santo, levando na bagagem, os bonecos Pregolino e Totoió. Nesse estado ao ser convidado para fazer um
espetáculo de rua, teve a idéia de criar uma família de bonecos gigantes, o
pai, a mulher e uma criança. O boneco Pregolino passa a ser o pai, cria a
boneca, mãe Bá, e o boneco, Môfio. Para esses bonecos, aprimora a técnica de
manipulação, separando o boneco em duas partes, a de cima e a de baixo,
humanizando mais os movimentos. Com esse processo, aprimora também o boneco
Totoió, que passa a ser o vovô Totoió. Ainda no Espírito Santo, o boneco
Pregolino, que já era vestido pelo seu filho mais velho, Wertem, em um evento
para criança ganha um nome novo, passa a ser chamado de Amarelo, nome que
popularizou o boneco. Com o grupo Pingo D’água montou os espetáculos Morro da pescaria, Pari guara, Ritual do
tempo, Solte os bichos e O dominador, todos de sua autoria.
No Espírito
Santo ao conhecer o congo, criou um ritmo percussivo batizado de capoeboicongo – uma fusão de elementos
da capoeira, do boi e do congo, tocado com tambores de troncos de madeira e
berimbau. Com o fim do casamento com Rosemeire Faleiro, retorna em 2000 para o Tocantins
e junto com os filhos cria o grupo os Tawera, uma junção dos nomes de seus três
filhos Wertem, Taion e Ramar, que, segundo ele, significa uma tal era, tal de
taoísmo e era de uma época, a razão de ser de uma época. Os filhos são a razão
de ser de uma época da sua vida. Nesse mesmo ano, como resultado da imersão na
cultura popular brasileira e sua relação com o teatro, cria no distrito de
Taquaruçu em Palmas, capital do Estado, a Aldeia Tabokagrande - um lugar de
mitos e lendas dedicado às representações simbólicas da natureza humana e dos
elementos naturais da região, da qual fez surgir, junto com seus filhos, um
bloco carnavalesco e um grupo musical, ambos também denominados de Tabokagrande.
Atualmente ele e seus filhos se dedicam, ainda, a produção cinematográfica. Com
os Tawera criou os espetáculos Coração de
menino, Solte os bichos, Rei do milhão, Kauso tambor, O que é o amor e está
montando o espetáculo Boizinho sonhador.
Atualmente na aldeia funciona também um Ponto de Cultura.
Para o bloco Tabokagrande,
que desfila ao som do ritmo capoeboicongo, criou o boneco Tabocão e a boiúna,
uma serpente que representa a água, a mulher. Em 2006, transforma o bloco, no Galo
de Palmas, um bloco de carnaval com cinco bonecos gigantes, que representam, para
ele, as regiões que compõem a cidade: Taquaruçu, os bairros Aurenys, o centro –
marrandukã; o norte – galo união, e Taquaralto – o comércio. O bloco, segundo
ele, chama-se Galo, porque cada região, em Palmas, quer cantar de galo, ser
mais importante – Taquaruçu, porque foi a origem; o centro, porque é moderno; o
Taquaralto, porque é o comércio; os Aurenys, porque construiu Palmas; o norte,
porque congrega as várias culturas que vieram se unir em Palmas.
Em Taquaruçu
começa também a produzir os tambores em madeira, feito com tronco ocado. Da
queima dos troncos para produzir os tambores, surgiu a ideia de fazer o
espetáculo da queima dos tambores.
O carnaval da
aldeia Tabokagrande começa com a caçada da boiúna pelo distrito de Taquaruçu,
depois o encontro da boiúna com os bonecos gigantes e o ritual da queima dos
tambores na aldeia. Nos últimos dois anos, o evento passou a ser realizado uma
semana antes do carnaval, para abrir a festa do rei Momo, do município de
Palmas.
Wertemberg
é atuante no movimento cultural. Foi membro do Conselho Setorial de Música do
Ministério da Cultura, representando a região norte, entre 2011 e 2014 e membro
do GTCV - Grupo de Trabalho Cultura Viva,
representando a CNPDC Comissão Nacional dos Pontos de Cultura pela região norte,
em 2014. O GTCV foi criado para regulamentar a lei cultura viva. Foi também
um dos idealizadores do Movimento de Políticas Públicas para a cultura no
Tocantins - MOVE-TO.
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